31.8.04

renegando o código social

Sinto como se eu estivesse entrando em um cômodo estado de hibernação consciente.
Sinto falta das pessoas, mas a manutenção das relações é deveras complicada, e eu prefiro ficar quieta.Talvez eu tenha mesmo cansado de dar valor demais pra pessoas que me dão valor de menos. Ainda sinto saudades, mas agora, é como se olhasse de fora, como se não fosse eu que as sentisse.
Eu não quero perder o contato, pelo menos não comigo mesma.

23.8.04

"o amor faz coisas horríveis"

Você já deve ter dito ou pensado isso.
Assim como já deve ter escutado alguém falar que já sofreu muito por amor.
Iggy, o Pop disse que soldados matam por amor.Talvez, mas ainda assim acho uma afirmação pesada demais pra algo como...como o amor. Ninguém sofre por amor. Morre ou mata por amor. Ninguém se deprime por amor. É a falta dele. É a recusa, a perda, a mudança, o fim, a não-existência e a necessidade. A saudade e a esperança não concretizada.
Se o amor estivesse lá, nada disso aconteceria.
Então, a culpa não pode ser do amor.
Hoje então, dou veredito: o amor é inocente.Mas eu não.

22.8.04

Escrevo essas linhas na condição de que voce simplesmente as aceite, afinal assim são formadas as impressões que temos uns dos outros, não dependem da nossa vontade ou aprovação, simplesmente existem e co-existem. É incrível imaginar este livre arbítrio de opiniões, pois sei que, apesar de não admitir, gosta de manter-se sempre no controle. Deste defeito partilhamos, talvez por isso o nosso relacionamento causa-me tanta perplexidade e atração.Sinto como se fossemos um harmônico paradoxo, e é exatamente por isso que eu o admiro, em voce encontro, ou pelo menos enxergo, o que falta em mim: maturidade, paciência, reflexão, segurança.

21.8.04

A festa nunca termina

Dias atrás a namorada de um amigo foi esgarrafada.

Peço perdão pelo silogismo barato, não vejo palavra melhor para descrever o ocorrido. A menina fora agredida por uma ex-namorada do garoto, após muitas ameaças feitas a ambos. Durante o registro da "queixa" a ex-namorada , segundo testemunhas, convidava os presentes para a "saideira" em outra casa noturna, assim que acabassem todas as chatices burocraticas. Problemas psicológicos e humorísticos a parte, fico indignada com algo em particular: Agora, cerca de um mês depois, a menina agredida retirou a queixa, afinal irá sair do país no fim do ano, e o organizador da festa onde tudo aconteceu poderia perder o
direito de manter tal evento sendo multado por permitir a entrada de menores na casa. De acordo com minhas próprias conclusões isto prova que, o fato de a menina ser uma agressora em potencial nada significa, assim como o corte na cabeça, os pontos e, me perdoem o cliché mas, "a justiça é cega".

Importante mesmo, é que a festa continue.

19.8.04

Essa intervenção biomecanica toda me empapuça.
Penso, não raramente, na ausência dos metais e
líquidos ardentes, se as angústias outras seriam.
É provavel que sim, ouço-me responder.Uma
probabilidade tão certa, que me perturba o
pensamento de nunca mais senti-las, as angústias outras.


É particularmente estranho, não
reconhecer-se na própria f(o)ôrma.

3.8.04

"Já passava um pouco das 22:00 quando o onibus parou no ultimo ponto da Teodoro Sampaio, próximo à faculdade de medicina. Entrou um senhor de mais ou menos 55 anos, cabelo grisalhos, vestindo uma estranha calça bege de veludo, meias ordinarias e sapatos de corrida, prata e laranja. Usava também um sueter cor de vinho, por cima de uma camisa xadrez e carregava, além da bolsa com logotipo USP, duas sacolinhas do mercado Luzita. Ao pagar a passagem, imediatamente pôs-se a dividir o banco comigo e, sem maiores cerimonias abriu uma das sacolinhas plásticas tirando :
1- um pacote de pão
2 - uma embalagem de isopor com queijo fatiado
3 - uma embalagem de isopor com mortadela fatiada.
De posse dos ingredientes citados, passou então à montagem dos sanduiches. Lanches prontos, acomodou-se o mais horizontal possível no banco que dividíamos e devorou-os num piscar de olhos. Com os movimentos mais lentos que podia fazer, alcançou as sacolinhas no chão do onibus tirando desta vez :
1 - o pacote de pão
2 - um vidro de geléia
3 - uma caixa de suco longa-vida.
Assim, esvaziou a caixa de suco, comeu algumas fatias de pão com geléia e guardou tudo logo em seguida.
Pantagruelístico senhores, pantagruelístico."


e a sensação de inutilidade que tem me tomado só não pode ser maior, porque não tem espaço

2.8.04

e lá estava eu, voltando pra casa depois de mais uma consulta ridicula ao endocrinologista. enquanto andava por aquela rua movimentada, cheia, suja dei-me conta de que não suportava mais aquilo tudo. nào suportava mais o egoísmo do ser humano, os cachorros magros passando pra lá e pra cá, os pedintes, os papeis amassados pelo chão. resolvi entào da um fim naquilo tudo, ou pelo menos dar um fim no meu contato com aquilo tudo. seria facil, rua movimentada, onibus em movimento e uma pessoa sozinha com vertigens provocadas por medicamentos de efeitos alucinógenos. decidi escolher uma pessoa qualquer e começar analisar seus gestos, depositar mentalmente toda a culpa do mundo em seus trejeitos. encara-lo como o ser mais egoísta do planeta e, com isso ter inspiração o suficiente ( oh ceus, covardia, perdoe-me). então, quando escolhi aquele senhor grisalho, vestindo duas peças de um terno cinza chumbo, e um colete de lã provavelmente feito por sua esposa, encarei-o fixamente, analisei cada gesto mínimo, imaginei como era rude ao ir ao barbeiro aparar as sobrancelhas brancas e grossas, como ralhava com a esposa ou com a empregada por suas calças não estarem com o vinco exato, o jornaleiro por lhe entregar o jornal amassado e...e nesse momento ele levantou calmente os olhos e, limpando as lentes dos oculos com a barra do colete, olhou em minha direçào e sorriu. não foi um sorriso malicioso como sempre esperamos de um desconhecido. um sorriso de avô, do meu avô, e aquele "encanto" que eu procurava criar, sumiu. tudo que eu fiz foi sorrir de volta e atravessar a rua.

1.8.04

"- oi, vc pode me emprestar uma caneta? - disse a moça sentando ao meu lado no onibus.
-errr...claro, péra aí q vou ver se tenho....aqui - evitando olhar pro lado com a cara inchada
-obrigada...e um papel, vc tem? pode ser desses lencinhos mesmo...
- toma...
( anota algo durante dois minutos mais ou menos )
- olha, brigada viu. isso é pra voce - devolve a caneta e estende o papel pra eu pegar.
- pra mim?
- sim, vi voce lá fora. não me parece bem. vai nesse endereço aqui. não é igreja, não é culto nào é nada. é só energia.
- energia? como assim?
- vai lá...vc tá precisando de energia...vai te fazer bem, faço questão...se não gostar, não volte - e sorriu. "

eu ando tão down...

"Eu não sei o que o meu corpo abriga
Nestas noites quentes de verão
E nem me importa que mil raios partam
Qualquer sentido vago de razão
Eu ando tão down
Eu ando tão down..."