2.8.04

e lá estava eu, voltando pra casa depois de mais uma consulta ridicula ao endocrinologista. enquanto andava por aquela rua movimentada, cheia, suja dei-me conta de que não suportava mais aquilo tudo. nào suportava mais o egoísmo do ser humano, os cachorros magros passando pra lá e pra cá, os pedintes, os papeis amassados pelo chão. resolvi entào da um fim naquilo tudo, ou pelo menos dar um fim no meu contato com aquilo tudo. seria facil, rua movimentada, onibus em movimento e uma pessoa sozinha com vertigens provocadas por medicamentos de efeitos alucinógenos. decidi escolher uma pessoa qualquer e começar analisar seus gestos, depositar mentalmente toda a culpa do mundo em seus trejeitos. encara-lo como o ser mais egoísta do planeta e, com isso ter inspiração o suficiente ( oh ceus, covardia, perdoe-me). então, quando escolhi aquele senhor grisalho, vestindo duas peças de um terno cinza chumbo, e um colete de lã provavelmente feito por sua esposa, encarei-o fixamente, analisei cada gesto mínimo, imaginei como era rude ao ir ao barbeiro aparar as sobrancelhas brancas e grossas, como ralhava com a esposa ou com a empregada por suas calças não estarem com o vinco exato, o jornaleiro por lhe entregar o jornal amassado e...e nesse momento ele levantou calmente os olhos e, limpando as lentes dos oculos com a barra do colete, olhou em minha direçào e sorriu. não foi um sorriso malicioso como sempre esperamos de um desconhecido. um sorriso de avô, do meu avô, e aquele "encanto" que eu procurava criar, sumiu. tudo que eu fiz foi sorrir de volta e atravessar a rua.