18.6.05

einsturz

eu vou te desconstruir meu bem. e falo isso com todo carinho que eu possa ter. vou te descontruir por mim, e mais ainda por você. a verdade é que as imagens surgem de repente, criando vínculos. um verdadeiro clipe de uma música que poderia ser do cartola. criam as situações, momentos e conversas marcadas em segundos, minutos e horas. em dizeres, em não ditos, em silencios... e dentro de tudo isso, vivendo em hyper-speed, consigo assistir tudo icógnita, como quando fiz força para não ser vista hoje, subindo a ladeira ao sair do cinema. sozinha. desconstruir é doloroso, sempre é. tanto tanto que eu poderia chorar. mas eu não sou dessas meninas nouvelle vague que choram enroladas no cachecol, com o vento contra o rosto, nem vento se tem mais por aqui. desconstruir é romper, e recomeçar. mesmo sem querer, mesmo necessário. é todo um processo que eu detesto, porque detesto todos os processos. o fato é que vou começar a te desconstruir, meu bem. e começo por hoje. agora, nesse minutinho, algo que deveria ter sido feito há tanto tempo, e não por falta de seus pedidos mudos. desconstruir fio por fio dos cabelos,os olhos, os cílios, as pintas, a pele, a cor. som, cheiro, tom, voz, sorriso, dentes, língua. dedos, unhas e pés. eu vou te desconstruir, meu bem.e você não vai nem ligar. nunca o fez. eu preciso te desconstruir. até que já não reste mais lembranças ou gostos ou sons e números de telefone. até que já não reste mais nada. afinal, como todo auto-destrutivo, você não me dá outra alternativa, a não ser te desconstruir.