24.5.05

pequenos dramas cotidianos ou, como a memória nos prega peças estranhas.

a mente da gente é um verdadeiro buraco negro.
passei toda minha infancia em uma casa de suburbio bonita, majestosa e equipada com todo tipo de travas, cadeados e correntes. num dia qualquer de um dos doze meses do ano de 1985, brincavamos de casinha, eu e minha irmã, no jardim em frente à casa, dentro dos limites demarcados pelas grades cinza do portão e, uma das panelinhas-de-plástico-cor-de-laranja-com-detalhes-em-marrom, rolou pela rampa de acesso, passou por uma fenda e caiu na calçada. com pressa e sem titubear descemos e pedimos à primeira pessoa "se podia pegar porque a gente não pode sair". um homem branco de barba e bigode castanhos, com aparência de 30 anos, abaixou e me entregou sorridente, o brinquedo. bonzinho e simpático que foi, conversou durante uns minutos e me chamou bem próximo. doeu. no primeiro segundo senti cócegas, e a vergonha me empurrou um passo atras, mas moço prestativo me puxou pelo braço estendido pra pegar a panelinha. e então doeu, mas não o braço.